Reportagens do dia 18/05/2025 repercutiram investigação da Polícia Federal que interceptou mensagens do traficante Arnaldo da Silva Dias, vulgo Naldinho, integrante da alta cúpula do Comando Vermelho e preso no Complexo Penitenciário de Bangu.
Nas mensagens datadas de 22/02/2025, Naldinho determina uma trégua de sete dias nas guerras e nos roubos. A data coincide com a reunião dos Ministros de Relações Exteriores participantes do encontro do G20, grupo das 20 principais economias do mundo, sediado na cidade do Rio de Janeiro.
No comunicado, Naldinho confirma o motivo da paz momentânea: “Boa tarde a todos os meus irmãos. Hoje, um representante das autoridades no Rio procurou o irmão que é sintonia e pediu para nós segurarmos sete dias sem guerras e roubo devido ao G20…”. O criminoso conclui: “[…] estamos de acordo em segurar esses sete dias, até porque, se veio no diálogo, eles demonstram um respeito por nós […]”. Ainda segundo a investigação autorizada pela justiça, “eles” seriam autoridades cariocas responsáveis pela interlocução com os faccionados, contudo a polícia não identificou quem seriam.
Essa não é a primeira vez que ouvimos algo parecido por ocasião de grandes eventos internacionais realizados na Cidade Maravilhosa, entretanto, pelo que parece, dessa vez existem fortes indícios de veracidade. E se isso realmente ocorreu, é mais um tijolo no caminho que vem sendo pavimentado na direção de um narcoestado.
Estamos indo ao encontro de republiquetas como Bolívia, Peru e Colômbia, escravizadas e totalmente carcomidas pelo crime organizado alicerçado pelo narcotráfico. Guardadas as proporções, até porque o RJ é incomparável em se tratando de crime organizado, toda a nação sofre com a influência direta de ORCRIMs como o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital (PCC). Este último, inclusive, já é considerado cartel por conta da sua influência internacional, ostentando a segunda posição nas Américas e perdendo apenas para o Exército de Libertação Nacional da Colômbia (ELN).
Medidas como a ADPF 635, que dificultaram sobremaneira as operações policiais nas comunidades cariocas, contribuíram para o crescimento de 17% das facções nos últimos 4 anos, segundo relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ainda segundo o estudo, um verdadeiro exército de 116 mil criminosos mantém as atividades ilícitas a todo vapor.
O garantismo penal desvirtuado, a ausência de políticas públicas efetivas, o Código Penal arcaico, entre tantos outros ingredientes, também atuam como facilitadores para o crescimento desse bolo indigesto. Negociar trégua, em tese, é algo privativo de nações em estado de beligerância, de guerra.
Quando uma autoridade constituída se utiliza desse expediente em uma interlocução com faccionados, automaticamente passa a reconhecer um estado paralelo.
Por fim, fazendo uma alusão a competições esportivas, é possível mencionar que, quando uma equipe desiste, o adversário é automaticamente considerado vencedor por W.O. – sigla em inglês para “walkover”, que, em português, seria algo equivalente à “vitória fácil”. Nesse sentido, por mais intimidador que um adversário possa parecer, fugir do confronto não é a solução.

Colunista Ten. Moraes – @moraespontaum
👮🏼♀️Tenente da PMES
🗣️Palestrante
👮🏼♀️Especialista em PAAR e Organizações Criminosas do ES.
🗣️Compartilhando verdades e algo mais.